1) Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem (Lc 23, 34)
Esta oração é para que Deus perdoe a ignorância daqueles que o crucificavam: os soldados romanos e a multidão que o acusava. Reflete e confirma uma exortação anterior de Jesus, quando instava a seus seguidores que amassem e perdoassem seus inimigos (Mt 5:44).Remete-nos a oração do Pai-nosso em que nós mesmos colocamos a condição para que o Pai perdoe as nossas faltas: "perdoai as nossos ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido".
2) "Em verdade eu te digo que hoje estarás comigo no Paraíso." (Lucas 23, 43)
São Lucas coloca no centro de sua narração o anúncio da salvação operada por Cristo, salvação que é a mais plena manifestação do amor de Deus. No diálogo de Cristo com o ladrão o que se deixa notar é o anseio de, mesmo na cruz, Jesus pregar a conversão e a salvação aos homens. Poderíamos nos perguntar: o Crucificado deveria salvar a quem nesse momento de extrema agonia? Humanamente responderíamos que era Ele mesmo, mas ele não salva a si mesmo, mas os pecadores que se convertem e confiam nele. Assim a cruz se torna local de transfiguração do rosto salvador de Deus. A salvação de Deus é operada não porque ele tira Jesus da cruz livrando-o da vergonha e da humilhação, mas pelo fato de permanecer mesmo nas horas mais extremas fiel ao amor. A salvação vem para aqueles que estão abertos aos planos de Deus: o primeiro ladrão se associou aos chefes e soldados, ele queria, assim como muitos judeus, uma manifestação espetacular de Jesus, já o segundo mostra numa atitude de piedade a confiança em Cristo. “O ‘lembra-te de mim’ é uma oração que, na tradição religiosa bíblica e judaica, os moribundos e os homens perseguidos pela desgraça dirigem a Deus”. Jesus é reconhecido por ele num momento de extrema humilhação e rebaixamento, num momento em que Jesus é visto como um “derrotado”. Jesus se dirige ao ladrão decidido: garante-lhe a salvação ainda hoje por causa desse lindo gesto de arrependimento e volta do coração ao Senhor. Da boca de Jesus crucificado é escutado o pronunciamento de salvação para todos aqueles que se convertem e se arrependem de seus pecados. Esse fato não é contraditório com a vida de Jesus, pois ele “veio procurar o que estava perdido, chamar os pecadores à conversão” (Lc 5, 32). “Não há situação humana de miséria e de pecado que exclua alguém da salvação; também para o bandido que morre por causa de seus delitos há esperança de futuro”.Seguindo as últimas palavras de Jesus na cruz notamos uma presença no Gólgota de singular importância: a presença da mãe e do discípulo amado de Jesus. Maria é uma mulher forte, corajosa e confiante nos planos de Deus; se no dia da anunciação ela teve a alegria de o receber no seu ventre, agora ela o entrega novamente ao Pai. Na cruz de seu Filho “encerra” a missão de mãe terrena de Jesus, mas uma nova missão é assumida: simbolicamente a Igreja está presente no momento da crucificção através de Maria e João; Maria torna-se mãe do discípulo e de todos os discípulos. Ela agora é mãe da Igreja nascente e João representa cada cristão, de todas as épocas, que recebe a mãe do Senhor como sua mãe. “O último ato de Jesus antes de morrer tem sido formar o povo messiânico, fundar a Igreja na pessoa da mãe e do discípulo amado”. Por isso, na adoração da cruz na sexta-feira santa, as duas velas que ficam ao lado da Cruz para ser adorada simbolizam Maria e João que destemidamente estiveram sempre ao lado de Jesus.
4) "Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27:46 e Mc 15:34).
Expressa o sentimento de total abandono experimentado por Jesus em seu sacrifício e a necessidade de enfrentar a agonia sem qualquer valimento, nem mesmo o divino, a fim de cumprir seu desígnio e realizar sua obra de salvação. O seu grito foi o extremo brado de toda a humanidade que, não raras vezes, se sente abandonada. Seu clamor ecoa toda a experiência da Antiga Aliança, onde vemos que muitas vezes os profetas e patriarcas também gritaram ao único Deus capaz de socorrê-los. Seu brado além de confirmar a verdade histórica mostra que não houve um abandono real por parte do Pai, mas sim uma sensação de abandono devido às circunstâncias extremas, pois, quanto mais amamos alguém e nele confiamos, mais atroz resulta a sensação de abandono.5) "Tenho sede". (João 19:28)
Aqui fica patente a natureza humana de Jesus, não era uma reclamacão ou um pedido mas uma afirmação clara de que Ele era de carne osso, tinha fome sede como todos os humanos. E é por isso que Ele se compadece nós, pois Ele conhece todas as nossas dores (Hebreus 4:15 e 15). Sua sede, contudo, não fora saciada com água, mas com o acrimonioso vinagre dos nossos pecados. Experimentando o sabor final do pecado, sofre como se Ele fosse responsável por tudo o que houvesse acontecido. Sofre o abandono próprio dos pecadores. Ardendo em sede sofre não só as penas do pecado, mas também a culpa destes. Porém, sua ardente sede será saciada não com o amargo vinagre dos pecados por ele assumido, mas com água cândida da ressurreição que conduz a eternidade.6) "Está consumado" (João 19:30)
Jesus declara que tudo o que devia ser feito foi cumprido, e é interpretada como um sinal de que a obra de salvação se tornará eficaz por intermédio de seu sacrifício em prol de todos os homens.A cena da morte é dominada pela idéia do cumprimento. Esta frase não quer dizer o fim de tudo, mas inicio de um todo salvífico que encerra com sua morte, inclusive e com ela inicia, exclusive. Vemos que a vontade do Pai foi realizada, em tudo perfeitamente. A cruz é momento no qual vemos a perfeita obediência de Jesus a vontade do Pai, a revelação do amor e a construção de uma comunhão. Pela obediência nos dá a salvação; pelo amor nos conduz a plenitude e pela comunhão nos faz o novo povo de Deus, que a partir de agora, não se perde na promessa, mas se encontra na efetivação plena do que Deus houvera prometido. A cruz torna-se assim, não um gesto como os outros, um cumprimento qualquer das Escrituras, mas o termo de toda a ação salvadora do pai para com os seus filhos. Sendo a cruz é a manifestação extremada de um amor infinito que o Pai e o filho possuem pela obra da criação.
7) "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito". (Lucas 23 46)
Terminada sua agonia, Jesus se abandona aos cuidados de seu Pai e, assim fazendo, expira. Que coisa era consumada senão aquela que a profecia tanto tempo já havia predito? Santo Agostinho disse: “Uma vez que não permaneceu nada que, agora se devesse compreender antes de sua morte, e já que tinha o poder de dar a sua vida e retomá-la (Jo 10,18) fazendo se cumprir tudo aquilo que esperava que se cumprisse, abaixando a cabeça entrega o espírito.” Ao entregar o seu espírito, a obra do Pai foi levada a termo pelo sacrifício. Sacrifício este que, ao contrário dos sacrifícios da Antiga Aliança que eram oferecidos pelos homens e não mudavam sua realidade objetiva, torna-se agora sacrifício oferecido pelo próprio Pai que dá seu único Filho em sacrifício para consumar a obra da salvação, que nas palavras de Cristo expressa a majestade de sua missão consumada não somente em seus ditos, mas finalizada na eximia Cátedra de sua missão: a cruz!
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